(Nota do tradutor: artigo publicado em inglês em 02/12/2006 no blog The Last Psychiatrist (“O Último Psiquiatra”), atualmente inativo.)
(N.d.t.: capa de revista com foto de mulher jovem; nome traduzido “Psiquiatria”, matéria de capa “A Arte da Psicoterapia”, e trecho destacado “As consequências de terapia incompatível podem ser desastrosas.”.)
Nota a legenda embaixo. Essa é uma capa interessante. Ninguém jamais teria pensado em criar uma advertência similar sobre as consequências desastrosas de incompatibilidade com, digamos, Depakote. Nós sabemos que ele tem efeitos colaterais, mas nunca seria desastroso, certo?
(N.d.t.: valproato de sódio é usado pra tratar epilepsia, bipolaridade (mais diagnosticada em mulheres do que em homens), e enxaqueca, e causa náusea e sonolência em cerca de 20% dos pacientes, pode aumentar o risco de suicídio, e causa (em geral, não como exceção) atrofias no bebê se tomado por grávida.)
Mas por que terapia ruim seria desastrosa? Se a psiquiatria é tão baseada na biologia que um ambiente ruim não é a causa principal de problemas psicológicos, por que terapia ruim seria tão poderosa? Se má criação pelos pais não pode causar distúrbio de atenção, como pode terapia ruim piorar?
“A Arte da Psicoterapia”. Certo. Mas por que “ciência da farmacologia”? Porque nós dizemos “5HT2A” pra lá e pra cá como se soubéssemos do que falamos?
A frase seguinte diz “Selecionando pacientes pra psicoterapia psicodinâmica”. Mulheres brancas, jovens, e atraentes, talvez? Mas eles não quiseram dizer isso, claro. É só uma imagem.
Quase ninguém aprecia – e ninguém mesmo diz – o quão fundo os preconceitos penetram na psiquiatria. Não é coincidência que a psiquiatria foi misturada com assistência social, responsabilidade criminal, etc. O debate sobre “inato ou adquirido” é uma distração, um truque de mágica. Ele nos permite nunca ter que dizer o seguinte:
“Se eles são ricos e inteligentes, e podem entender como os comportamentos deles afetam os humores deles, nós podemos ajudar eles a se ajudarem. E eles não vão querer tomar remédios com efeitos colaterais mesmo.
Mas se eles são pobres ou de pouca inteligência, nós nunca vamos poder mudar o ambiente caótico deles, ou melhorar o autoconhecimento ou bom senso deles. No entanto, um fracasso social desse tamanho não pode ser encarado de frente; nós temos que deixar eles com a ilusão de que o comportamento não é inteiramente sujeito à vontade; de que as circunstâncias deles não dependem da atividade deles; de que os homens não são todos criados iguais. Porque sem a proteção que a psiquiatria oferece, eles vão exigir comunismo.”
(N.d.t.: “todos os homens são criados iguais” aparece na Declaração de Independência dos Estados Unidos.)