Se essa é uma das coisas mais atraentes que tu já viu, tu pode ser narcisista

Uma introdução rápida ao novo narcisismo.

Eu não quero dizer as descrições tradicionais por Kernberg, Kohut, ou mesmo Freud. Eu acho que o narcisismo evoluiu em tempos modernos.

Um narcisista não é necessariamente um egotista, alguém que se acha o melhor. Um critério simples é uma falta de consciência de que outras pessoas existem, e têm pensamentos, sentimentos, e ações sem ligação com o narcisista. Esses pensamentos não precisam ser bons, mas precisam ser ligados ao narcisista. (“Eu vou ter que abastecer – porque aquele imbecil nunca enche o tanque.”)

O narcisista pensa que é o personagem principal no seu próprio filme. Todos os outros são secundários – todo mundo em volta dele vira um “tipo”. Sabe como em cada comédia romântica, sempre tem a amiga engraçada que ajuda a personagem principal a entender o relacionamento? No filme, a existência inteira dela é estar lá pra ajudar a personagem principal. Mas na vida real, aquela amiga engraçada tem a própria vida; ela pode até ser a personagem principal no próprio filme, certo? Bem, a narcisista não seria capaz de apreciar isso. As amigas dela sempre apoiam, podem ser chamadas qualquer hora da noite, sempre têm interesse no que ela veste ou faz. Aquela amiga engraçada não é só boa amiga, não quer só ajudar – ela tem interesse pessoal na vida da narcisista. Claro que ela tem.

Um comediante, não lembro qual, fez uma piada sobre atores em Los Angeles, mas se aplica a narcisistas: quando dois narcisistas saem, eles só esperam a boca da outra pessoa parar de se mexer pra eles poderem falar sobre si mesmos.

Então de um lado, o narcisista reduz todas as outras pessoas a tipos em relação a ele mesmo; do outro, o narcisista, como personagem principal do próprio filme, tem uma identidade que ele quer (isso é, inventou) e exige que todos os outros a complementem.

Um narcisista tem a mesma aparência todo dia; ele tem um “visual” com uma característica distinta: um certo corte de cabelo; um bigode; um tipo de roupa, uma tatuagem. Ele usa isso pra criar uma identidade na mente dele que ele vai gastar muita energia mantendo.

Considera o narcisista que quer que a esposa só use sapatos de salto alto brancos. O narcisista quer isso não porque ele em si gosta de sapatos de salto alto brancos – talvez goste – mas porque o tipo de pessoa que ele pensa que ele é só estaria com o tipo de mulher que usa sapatos de salto alto brancos. Ou, em outras palavras, outras pessoas esperariam ver alguém como ele com uma mulher que usa esses sapatos. Do que ele gosta não é o fator relevante, e certamente do que ela gosta é irrelevante. O que importa é que ela e os sapatos dela são acessórios pra ele.

Não importa se a mulher é obesa, ou tem 65 anos, ou se os sapatos são fora de moda, ou impráticos – os sapatos representam algo pra ele, e ele tenta reforçar a identidade ele através daquele objeto.

Narcisistas tipicamente se focam em coisas específicas como representações das identidades deles. Como no exemplo acima, a mulher ser obesa ou paraplégica pode ser ignorado se o calçado for a representação da identidade. Essas representações também são fáceis de descrever mas carregadas de implicações: “Eu sou casado com uma loira.” Dizer “loira” implica algo – por exemplo, que ela é gostosa – que pode não ser verdade. Mas o narcisista fetichizou tanto “loira” que se torna algo desconectado da realidade. As conotações, não a realidade, são o que importa (especialmente se outras pessoas não puderem verificar).

Isso explica porque narcisistas se sentem especialmente ofendidos quando o objeto fetichizado some. “A minha esposa parou de pintar o cabelo de loiro; mas quando ela tinha os outros namorados, ela ia pro salão todo mês. Cadela.” Ele não vê a óbvia passagem do tempo, o que ele vê é parte da identidade dele sendo tirada dele, de propósito. O insulto final: “Ela obviamente não se importa tanto comigo quanto se importava com os namorados antigos.”

Como um paradigma, o narcisista é primeiro (ou único) filho, de 2 a 3 anos de idade. Tudo é sobre ele, e tudo é binário. Dele, ou não dele. Satisfeito, ou insatisfeito. Com fome, ou sem fome. Mamãe e Papai falam um com o outro e não comigo? “Oi! Prestem atenção em mim!” Filhos mais novos tipicamente não se tornam narcisistas porque desde que eles nascem, eles sabem que há outros personagens no filme. (Mais novos têm transtorno limítrofe mais facilmente.) Controle, é claro, é importante pra um narcisista. Se tu consegue imaginar um homem de 40 anos com o ego de uma criança de 2, tu tem um narcisista.

Obviamente, nem todo primeiro filho se torna narcisista. Parte do desenvolvimento deles vem de não aprender que há certo e errado fora deles. Isso pode vir de criação incosistente pelos pais:

Papai diz “Guri burro, não vê TV, TV é ruim, vai te deixar burro!” Certo. Lição aprendida. Mas um dia Papai precisa trabalhar: “Para de fazer tanto barulho! Aqui, senta e vê TV.” Qual a mensagem aprendida? Não é que TV é às vezes ruim e às vezes boa. É que o que é bom e o que é ruim são decididos pela pessoa com mais poder.

Então o objetivo no desenvolvimento é se tornar aquele com mais poder. Portanto, narcisistas podem ser dogmáticos (“Adultério é imoral!”) e hipócritas (“foi ela que deu em cima de mim, e tu tava me ignorando em casa”) ao mesmo tempo. Não há certo e errado – só certo e errado pra eles. Um exemplo exagerado: se eles tiverem que matar alguém pra conseguir algo que eles querem, assim seja. Mas quando eles matam, eles não pensam que o que fazem é errado – eles dizem “Eu sei que é ilegal, mas se tu entendesse a situação inteira, tu entenderia …”

Narcisistas nunca sentem culpa. Só vergonha.

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